O legado cultural invisível

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Em casa, anos atrás, fiz um altar, com santinhos, anjos, velas, cristais, florezinhas e fiz caixinhas par servirem de “capelas” para os santos, tudo muito colorido! Qual não foi minha surpresa quando fiz uma visita a Uberaba, em Minas Gerais, terra dos meus antepassados e, em toda casa que visitei, estava lá o altar conforme eu havia montado!

Quantas vezes repetimos costumes, gestos, caras e caretas de antepassados e não nos damos conta disso?! Chama-se “memoria genética” ou atávica, já expliquei em outras colunas porque quando riscamos uma linha horizontal em um papel, automaticamente o cérebro reconhece a linha do horizonte e com isso podemos criar uma perspectiva mais realista.

A mesma herança se dá em relação aos materiais, usamos ainda o carvão mineral ou vegetal, pigmentos vindos de terras, folhas ou flores, telas de algodão ou linho, pinceis, formões, ferramentas em geral, usadas desde sempre por todos os nossos antepassados homens das cavernas, egípcios, gregos, babilônios, chineses etc.

Trazemos no nosso sangue e genes tudo o que nossos antepassados aprenderam e em relação ao mundo das artes, aproveitamos ao máximo as experiências de outros artistas.

 Estamos em uma época que tudo “parece” rápido, fácil e confortável, mas pessoalmente não acredito nisso. Como um artista posso afirmar que vivemos vários processos, e usamos todo o material que estiver ao nosso alcance para realizar uma obra.

E como todo bom ser humano, nos adaptamos! Sendo assim, em épocas de guerra, os italianos criaram a arte povera, ou pobre, e faziam colagens com pedaços de papelão, os artistas da renascença criaram as telas, mais vezes e fáceis de carregar e comercializar, Os muralistas mexicanos usaram as tintas acrílicas, que secavam mais rápido, enfim, para cada necessidade, uma solução.

Os artistas de hoje são frutos de milhões de anos de história e de ensinamentos, poucas vezes temos consciência da importância do legado de outros artistas, mas inconscientemente ele está dentro de cada um de nós…

É uma bobagem dizer que a “arte está morta” ou que não existe nada “novo”, esses tipos de comentários são de críticos que querem transformar a arte em “show business” ou leigos que não tem a mínima noção de cultura geral!

A busca pela “novidade” é insaciável e fora da realidade! E isso tem a ver com a falsa sensação de que precisamos ou sabemos de tudo, agora, nesse momento. Temos enxurradas de informações em tempo real e, na maioria das vezes, não sabemos o que fazer com elas e não nos damos tempo para analisar ou pensar sobre nada. Apenas vamos engolindo tudo o que nos falam e, nas artes, mexemos com “processos”, com observação, para criar uma obra precisamos de tempo, de chegar ao material certo…

Aliás, sobre o material, tudo para arte pode ser usado! Quando os computadores vieram com os programas de pintura, cansei de ouvir de leigos que os pinceis seriem aposentados! Usamos tudo o que precisarmos, e com certeza os computadores, máquinas fotográficas e qualquer outro tipo de tecnologia é bem-vinda.

Um ótimo Natal para todos!

Fotos e obras: Angela Diana

Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.

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