Por Ângela Diana
É, tem gente que acorda feliz. Eu era assim, mas ultimamente comecei a me encolher no meu casulo de caramujo por causa de um cansaço imenso. Então hoje não tem bom dia.
Para ser sincera, a coluna de hoje é mais uma questão de honra mesmo.
Ando de saco cheio dessa cidade que não muda nada e coloca os ingressos pro FILO a quase R$50,00.
Você consegue R$50,00 para ir no teatro?
Vi também que era a Semana do Cinema, que legal! Ingressos a R$10,00! Mas…lembre-se tem o “clube da pipoca” e com isso você pode pagar mais de R$30 ou até R$ 50 reais para ir assistir um filme e comer pipoca!
Todas as coisas simples que gostávamos de fazer nos anos 1980 ou 1990, foram tão “goumertizados” que perderam a graça.
Sair com os amigos em barzinhos aonde todo mundo pedia batata frita e refri ou uma cerva não é mais a mesma coisa.
E jamais será!
Acho ótimo quem consegue, eu não consigo mais! Cada tostão em casa é para casa, e não dá para gastar R$100,00 numa noite pra reunir os amigos!
Tem gente que acha normal! Se para você isso é “normal”, parabéns! Você faz parte dos novos londrinenses que gastam em lojas de shoppings e deixam seus filhos com iPads.
A coluna hoje tem um tom de revolta, porque, na terça passada, fiquei das 11 da manhã até às 20 da noite numa UPA! Sim! Passei pela triagem e estava com 37 de febre (a minha temperatura normal é 35, coisa de genética. Com 37 graus já tô tremendo de frio, dor em tudo que é lugar e vontade de deitar e morrer). Alguém veio com um remédio? Não! Fiquei mais duas horas lá esperando e morrendo de frio.
Como sou A indignada, fui perguntar se iria demorar, me mandaram bater na porta e chamar a enfermeira tal que não estava lá. Vejo uma moça que não sei o que era, e eu expliquei a situação! Olha, “a febre abaixou para 36, mas vai demorar para me chamar”? A fulana com cara de sonsa, daquelas que não olham pra você porque não tá nem aí, disse “senhora, todo mundo aqui está sofrendo e 36 não é febre”(Cara! Pra mim é! E com calafrio!), mas logo chamam a senhora!
Chamaram! Eram 3 da tarde. Entro na sala, onde uma moça estava há 40 minutos esperando uma injeção, uma senhora com a pressão subindo, outra senhora quase desmaiando da cadeira, um casal que a moça estava transparente encostada no rapaz e gente passando pra lá e pra cá e a gente ali! Raiva! Dor! Levantei e fui na tal da sala da “acolhida”, 4 pessoas, QUATRO! No computador, rindo, tipo momento de almoço. Eu falei: “olha tem uma senhora desmaiando, outra esperando 40 minutos para uma injeção para ir pra casa”, etc e tal! Dai surge, de um metaverso qualquer, alguém que poderia ser uma enfermeira que diz: “senhora, todo mundo que está aqui está passando mal”! Ou eu dava um murro na face dela ou fazia de conta que ela não estava lá! Fiz de conta que ela não existia! Fui grossa mesmo!
Resultado: atenderam as pessoas…eu fiquei por último.
Com febre com frio…A médica foi ótima, mesmo! Isso sem reclamações! Me colocam no soro, me dão remédio, tira sangue e…. Mais 4 horas para chegar o resultado dos exames! Que foram mandados para os atendentes e não diretamente para sala do médico!
E agora? Agora, levar o pedido da médica, para que uma médica do posto que – atenderá talvez daqui a 4 meses – possa me encaminhar para que eu faça exames, que talvez demore mais 4 meses. Ah, e tem alguns que eu vou ter que ir no Ministério Público porque o SUS não cobre.
Isso não tem nada a ver com arte! Isso tem a ver com falta de empatia, com falta de competência,com falta de organização, com falta de humanidade com todos que estavam ali!

Isso é a Londrina que muita gente não conhece! Que você está num lugar horrível e sucateado e que os que são enfermeiros de verdade fazem de tudo pra lhe atender bem, outros que estão ali, sabe-se lá porque, não querem nem saber! Não olham para você!
Essa é a Londrina da tal porcaria da “GREBA” e a Londrina dos pobretões que precisam de uma UPA e de uma UBS e nunca sabem o que vai ser!
Essa é a Londrina que não é mais nossa, é só um esgoto a céu aberto, aonde muitos trabalham e poucos se beneficiam!
Cadê a chefia das UPAS? Cadê a triagem que deveria já encaminhar para um médico quem está com pressão alta e pode ter um AVC ou morrer do coração ali na frente de todo mundo ou que está com 37 de febre e que pode ter convulsões (isso acontecia quando eu era criança!)?
Cadê os filhinhos de papai que tomam os lugares de quem não tem condições de estudar em universidades pagas e pegam as vagas de medicina na UEL? A cidade está cheia de faculdades de medicina! Cadê os médicos!?
Aliás! Deveria ser obrigatório que todos e todas fizessem residência uns 5 anos em hospitais públicos para ver que ser médico é mais que status ou ganhar dinheiro!
A coluna não traz arte hoje! Artistas não tem privilégio nenhum! Somos pessoas como qualquer outras , só não temos trabalho! Porque todos os anos tiram mais e mais da cultura
Pra engordar porcos ensebados! Para cidade ter mais iPads, iPods e iPhones, mais carrões de luxo, mais ignorância,mais gente alheia que acha que o verdadeiro poder é o dinheiro!
Sabem qual o verdadeiro poder? O CONHECIMENTO!
DEMONIZARAM O ARTISTA, PARABÉNS PARA VOCÊS!
Aqui não tem mais empatia, solidariedade, as pessoas ficam quietas sofrendo nos seu cantos enquanto deveriam estar berrando no meio de uma UPA, para serem ouvidas!
Talvez a moça da salinha com o computador passasse pelas pessoas e encaminhasse para o atendimento!
Outra coisa? Todo mundo estava lá sofrendo calados! Aprendemos a ficar CALADOS!
Sabe porque eu levantei? Porque, durante anos, meu trabalho me treinou para não aceitar absurdos! A ter coragem de perguntar “tem que ser assim”!?
É, depois de escrever, me toquei que isso tem muito mais a ver com arte, do que qualquer coisa!
Eu não fui criada pra ser gado!
Você foi?
Sem bom dia.

Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos. Instagram angela_dianarte
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