Por Ângela Diana
A morte!
Um dos maiores mistérios para nós, humanos … Na arte, a morte sempre foi tema recorrente! Muitos artistas, cada um com suas experiências, direta ou indiretamente, falaram da morte.
O título de hoje, diz respeito á uma passagem bíblica (já disse como os livros sagrados são fontes inesgotáveis de assuntos que inspiram, né?)
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Fiz uma obra há anos (nunca exposta) e usei exatamente essa frase para o título…
Bem, anos vem e vão, 24 anos depois estava eu com minha caneca de café, quando “trimm“, tocou o sininho no cérebro! Eu, finalmente, tinha entendido a passagem bíblica!
E o “porquê ” da escolha do título!
(Nada de spoiler, gente! Ainda quero mostrar essa obra e não vou explicar ela, não!)
O que posso dizer apenas é que o título fala da morte! De pessoas que nunca estão satisfeitas com nada, de gente que chega até o final da vida e que nunca conseguiram se conectar profundamente com alguém, ou com alguma coisa mais elevada.
Apenas a arte, em suas várias formas, consegue colocar em formas de imagens tal complexidade de pensamento!

A morte faz parte da vida
A morte para nós é um mistério, uma longa estrada e que, para muitas pessoas, não existe a tal “luz” no final do túnel…
Um dos contos mais bacanas sobre a morte, que tive a honra de ilustrar, foi feito por Estélio Feldman, anos atrás, para a Folha de Londrina.
No conto, o anjo da morte tira férias…
Imaginem a confusão!
Estélio conseguiu fazer um conto muito bacana de um assunto tão pesado! Mostrando como a morte é necessária e FAZ parte da VIDA.
Adivinhem que dia foi ontem?
Não teve como não tratar de outro tema, que não a MORTE.
Hoje, trago para vocês a forma como a morte de manifesta na minha obra!
Ela SEMPRE ESTÁ LÁ!
Em todas as minhas obras, existe a dualidade vida e morte.
São muitos símbolos e cores que uso para isso… Sejam grandes girassóis ou flores artificiais, terra, rendas negras, anjos e arcanjos…

NADA é aleatório!
Minha intimidade com a morte começou com 17 anos…. Em 1986, quando meu pai morreu.
Do nada, com 43 anos, num acidente de carro…
O choque, o limbo (pois ele ficou longos 37 dias em coma antes de falecer), a longa sala da UTI, as risadas dos enfermeiros na sala do lado, o cheiro enjoativo do amaciante usado na Santa Casa… Várias pessoas em coma na mesma UTI… Tudo isso, por anos e anos a fio, estavam expostos nos meus trabalhos.
Eu ainda guardo, nas pontas dos dedos, a frieza absoluta da morte no corpo do meu pai.
Entendi cedo demais que, o que nos marca aqui, materialmente falando, é nossa data de nascimento e de morte, provadas através de documentos registrados para sempre ,nos cartórios.
Trazer meu pai nas minha obras, inconscientemente, foi uma forma para a vida dele se prolongar.
E quantos artistas não passaram por isso e fizeram isso?
Quando morremos, perdemos a identidade, não temos mais um nome! Passamos a ser “O CORPO “.
A arte traz de volta a dignidade que a morte tira… Pintar ou desenhar quem foi importante na sua vida e que não está mais aqui, é uma forma de consagrar a vida dessa pessoa e deixar marcada sua passagem, além da certidão de nascimento e de óbito!
A morte causa impacto, dor, vazio , tristeza, sombras…
E intimidade… Já que começamos a morrer desde que respiramos pela primeira vez.
E o tempo passa rápido.
O relógio biológico bate depressa e nos incita a continuarmos a acordar, tomar café, trabalhar, ter a sensação que vamos durar para sempre…
(Até acredito que sim, mas não no mesmo corpo.)

Só vivemos “para” sempre através da arte… Pois, mesmo as lembranças das pessoas que nos amaram, desaparece na poeira dos tempos.
E para terminar a coluna de hoje, a dica é ouvir a música do Renato Russo: “O livro dos dias“…
Nada tão poético e explícito, para entendermos o que sente alguém que sabe conscientemente que já está “do outro lado” da cortina que é a vida, nesse grande palco, que chamamos de “mundo”.
Pax vobiscum!
Ângela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos. Instagram angela_dianarte
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Fotos: Acervo pessoal
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