Por Ângela Diana
É! Parece que pelo título de hoje, estou falando de uma pessoa ou de um bicho. Mas eu não estou sendo original!
Para os gregos e romanos, a inspiração era representada por uma deusa e por um deus, Atena e Apolo. E por nove musas: Clio, Euterpe, Talia, Melpôneme, Terpsícore, Erato, Polimnia, Urânia e a líder, Calíope. Os gregos foram extremamente inteligentes, usando símbolos ou personificando sentimentos, emoções e tudo o que achavam importante, como as artes! Todas as artes, aliás!
Vou fazer como os gregos: o que a inspiração “come”, do que se “alimenta”? A resposta é TUDO.
Tudo pode servir de inspiração! E hoje sou um exemplo “vivo” disso: estava eu aqui pensando no que escrever para a coluna, afinal não é todo dia que vem a tal “inspiração”… Quando minha amiga Aninha Barcellos me manda um texto sobre sereias na mitologia e a origem das palavras como a palavra: sirene… Pessoalmente, desde que li sobre outra versão, de que sereias eram metade aves e metade seres humanos, achei bem mais lógico! Mas versões tem várias e como são “lendas” muito antigas, fica bem difícil sabermos com absoluta certeza o que é ou não. E como já entrou no imaginário coletivo, que assim seja: metade peixe e metade ser humano.
Tudo isso para dizer que isso me deu a inspiração para falar dela, a “INSPIRAÇÃO”!
Então, ela pode vir de um texto, de uma figura, de um acontecimento, de uma emoção, de olhar o céu, do perfume de uma flor, daquele programa de TV sobre crimes, da caneca de café de manhã… Penso que o que importa é saber estar aberto para captar as nuances da vida, as imagens interessantes ou apenas admirar o tédio…
Outra coisa que pode inspirar, nesse mundo frenético, as pessoas dão tanta importância ao “fazer alguma coisa o tempo todo”, é PARAR de vez em quando! O “ócio criativo” é uma das melhores ferramentas da inspiração …
Esse tipo de ócio não significa “não produzir, não fazer nada”. Ele ajuda o cérebro a descansar, a tirar o foco de coisas que são terríveis como alimento para ele, que é “fazer a mesma coisa, todos os dias”! Não estou “falando” que ter uma rotina é ruim, mas tudo o que é massacrante, ser como uma máquina de produção!
É só lembrar daquela cena icônica do filme “Tempos Modernos ” do Charlie Chaplin, onde ele fica tanto tempo apertando parafusos, que o corpo dele só faz isso…
Não somos máquinas produtoras! Somos GENTE.
Somos criativos e, por isso, sobrevivemos até aqui.
No final das contas, trata-se não de sair destruindo tudo, acabando com o passado, mas de viver “fora da caixinha”! Parar de seguir padrões que são feitos por outras mentes. Trata-se de perguntar para você mesmo, se esses padrões impostos servem pra sua vida.
Inspiração também é suor, é trabalho, mas não o tipo de “trabalho ” que colocaram nas nossas mentes… Não é aquele trabalho que você precisa fazer com uma profunda infelicidade e apenas para se aposentar (hoje em dia , pode-se pagar o INSS ou fazer uma aposentadoria privada do jeito que você quiser). Então caí por terra a história de um trabalho com carteira assinada, o tempo todo.
Tenho que fazer essa observação aqui, sobre TRABALHO. Primeiro: o trabalho é inerente á qualquer ser humano ou seja, passar um pano na sua casa também é trabalho! Por anos, as mulheres que ficavam em casa cuidando dos filhos (trabalho de babás), fazendo comida (trabalho de cozinheiras), limpando a casa (faxineiras), fazendo sabão ou lavando a roupa de outras pessoas para ganhar o dinheiro (empreendedoras) e outros trabalhos afins não eram consideradas trabalhadoras e nunca tiveram remuneração por tudo isso e, ainda, por vezes, eram e são ainda humilhadas por escolherem ou por N razões estarem como donas de casa! “Estarem”, ok? Porque “ser” dono ou dona de casa também diz respeito aos homens!
Amem pelas mulheres guerreiras que se prestaram à esses trabalhos pela família! Amem também porque, nos dias de hoje, já existem leis para essas mulheres corajosas – assim como as que enfrentaram os preconceitos e foram trabalhar fora -, terem o direito de serem remuneradas e de terem suas aposentadorias!
E voltando para a inspiração, não poderia deixar de citar Leonardo Da Vinci, que nos deixou a máxima que a “arte é 1% inspiração e 99% transpiração”! Um livro não vai sair sozinho da estante e os anjos não virão lavar a sua louça (palavras da minha mãe, Tereza Diana). Ou seja, o trabalho está em procurar ler, ter conhecimento, ajudar a inspiração a chegar até você!
Fazer coisas diferentes do que você faz todos os dias, desde mudar a posição dos móveis, a cor da parede de vez em quando, fazer outro caminho para chegar ao trabalho ou até mudar o jeito ou o próprio trabalho e principalmente GOSTAR do que se faz!
Às vezes imagino quão insuportável deve ser fazer um trabalho que não se gosta a vida toda, apenas para se “aposentar e começar a fazer o que se gosta”… Já ouviu essa frase de alguém? Daí a pessoa se aposenta em um ano e no outro morre! Já vi isso acontecer… Quer mais frustração que essa?
A menos que você seja tão artista quanto o escritor Charles Bukowski, que se aposentou no trabalho dos Correios e teve uma vida conturbada, mas, ao mesmo tempo, tediosa e usou TUDO na vida dele para escrever e ser um dos maiores escritores que conhecemos! Claro que o tédio e as perturbações cobraram o preço e ele sofreu de alcoolismo a vida toda.
O que as pessoas não entendem é que não é a vida “de artista” que ajuda uma pessoa a piorar no álcool, nas drogas … O que piora é a vida massacrante de sermos sempre medidos pelo que “temos” e não do que “somos”! De sermos medidos pelo que produzimos e não pelo que somos como pessoas. Os vícios não pioram por sermos artistas, mas por sermos sempre colocados como robozinhos para alimentarmos o ego ou os bolsos dos “senhores da guerra” ou dos que se acham superiores ou mais espertos do que nós!
A hora que pararmos para realmente ver a arte como um dos melhores caminhos para nossa vida, finalmente cada um vai se enxergar como um ser inspirado e inspirador!
A arte é trabalho, é suor e nos ensina a estarmos preparados tecnicamente e abertos para quando a inspiração chega!
Por isso, grandes artistas em todas as áreas trabalharam tanto com o intelecto, com trabalhos braçais e com suas emoções, sentimentos e sensações e tiraram das suas vidas, rotinas e até do tédio inspirações para suas obras. Eles e elas estavam abertos para deixar a criação acontecer!
Inspirar é deixar o ar entrar nos pulmões… Isso nos permite viver! Sem ar, estamos literalmente MORTOS! Não é a toa que a palavra é usada nas artes, na criação! Numa passagem bíblica e no Torá, diz -se que Deus nos deu o ar, nos fez “inspirar”. No espiritismo diz -se que a alma entra no corpo, quando “inspiramos” pela primeira vez…
É ou não para pensar?
Espero que um dia, ao invés de algumas pessoas “baterem no peito ” e dizerem para os artistas – como uma forma de humilhação- a frase “EU TRABALHO”, possam ter a humildade de dizer: ARTISTAS, quanto o TRABALHO de vocês TAMBÉM é muito IMPORTANTE!
Talvez fique para a minha próxima encarnação…. Mas, tudo é possível!
Desejo que tenham uma semana INSPIRADORA e colaborem com nosso autoral e amado jornal pelo Catarse!
Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
Foto: Pexels