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Diários de quarentena: quando penso que não, começa tudo de novo!

Nos idos dos anos 1980, quem é artista deve se lembrar muito bem da dificuldade de se obter uma boa foto! Em todo o Brasil, tínhamos um concurso chamado salão de arte, em Londrina, inclusive….Na maioria deles, enviávamos de três a dez fotos e toda a descrição das obras, alguns até com texto explicativo! Não basta desenhar para ser entendido! Tem que falar…

Em Londrina, tínhamos o Salão de |Novos, aonde artistas iniciantes mostravam suas obras, o Salão de Natal e vários outros, incluindo a Mostra Zumbi que tinha o formato de “salão” no início. Mandávamos as fotos e “se” fossem selecionadas, as obras eram despachadas… Ocorre que, em vários lugares do Brasil, para participar, tínhamos que mandar as obras mesmo, nada de fotos! Se já era bem difícil e caro boas fotos, imaginem quanto pagávamos nas transportadoras!

O pior era ter o trabalho recusado e ainda arcar com todos os custos. Nenhuma instituição pagava o seguro do transporte, tudo saia do nosso bolso e, caso a obra fosse recusada, ninguém sabia dizer o porquê… A expectativa era enorme e quantas vezes era uma decepção!

Bom, digamos que as fotos foram aceitas e as obras chegassem no destino… A exposição acontecia e daí era aquele drama para trazer as obras de volta! Transportadora, obra sem seguro (porque ficava caro à beça) e, muitas vezes, você tinha que refazer o trabalho, pois voltava danificado, por mais que sua embalagem fosse resistente… Aprendíamos a fazer as embalagens inclusive! Até as de madeira, caixas de papelão, pastas…

Quando as obras entravam era uma alegria, como se isso fosse alguém , um crítico descobrindo seu trabalho e quando era recusado, lógico! Uma decepção, como se a obra estivesse errada. Claro, que esses sentimentos eram de uma iniciante, então o que era bom nos salões eram o teste para nossa resistência como artistas! Muitos ganhavam vários prêmios e isso ajudava a manter o trabalho funcionando…

No meu caso, fui recusada inúmeras vezes, até ser aceita no salão de Santos, São Paulo e ganhar um belo prêmio! Uma viagem para Nova Iorque, com ajuda de custo em dólares! Na época, para mim, foi uma resposta de que estava no caminho certo, pois ter as obras recusadas inúmeras vezes vai causando um certo mal estar (Acredito que muitos artistas se sentiam assim!

Fenarte- foto: ArthurMota/Divulgação

Tínhamos a esperança que, em um desses salões, algum crítico ou curador ou até um colecionador visse nossas obras e nos abrissem as portas para exposições maiores… Acho que, um dia, alguém deveria estudar esse fenômeno chamado salões de arte e fazer uma estimativa de quantos artistas conseguiram realmente mais trabalho por causa deles…

Agora, nesse momento o MAC, Museu de Arte Contemporânea do Paraná, resolveu fazer a 67a. edição do salão de artes… Em época de pandemia, o melhor foi dar uma “ressuscitada” em moldes passados… Mas criaram uma forma original dessa vez, que é colocar o objetivo de contemplar todas as raças, LGBTs, mulheres, expandir o acervo de obras para que não exista mais nenhum tipo de racismo ou preconceito.

Discutindo isso com alguns amigos artistas, não sabemos até que ponto isso é valido! Pois a arte, nesse momento do mundo não exclui ninguém. Quem excluía era o ser humano! Será que eu quero que minha obra entre no salão só porque eu sou mulher ou porque a obra é boa? 

O que achei muito bom nessa edição é que foram colocados critérios e o artista pode defender sua obra, caso ela seja recusada. Erámos recusados e nem sabíamos o porquê! Gostaria muito que, à principio, o salão contemplasse mais artistas de fora de Curitiba, isso seria de grande valia e mais, que os prêmios nos convidasse para participar de grandes exposições… Já que muitos artistas estão “ilhados” aqui em Londrina.

Pinacoteca -Fundação Pró-Memória São Caetano do Sul

Explico o “ilhado”! Estamos tão fora do eixo Rio -São Paulo que é extremamente difícil que um curador volte seus olhos para nossas obras! E já que nossos impostos ajudam a manter os museus e casas de culturas de Curitiba, apenas acredito que o mínimo seria o estado de também dar incentivo as artes do resto do Paraná…

Espero que o resultado do salão seja muito bom! Mostrarei aqui, quando sair, e as obras que forem contempladas! Vamos conhecer artistas que estão na ativa no Paraná!

Boa semana pessoal! Força, fé e alegria!

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