Diário de Quarentena: Passeando pelo acervo e lembrando…

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Se existe um lugar que guarda lembranças e histórias em suas paredes, esse lugar é um atelier…Creio que o processo criativo impregna as paredes , pensamentos, sentimentos, emoções. E se existe um atelier capaz de me transportar para o passado esse é o atelier de Leticia Marquez! Não é novidade que fui aluna da Leticia por 8 anos, eu era uma adolescente com o pensamento romântico de desenhar como Miguelangelo! Vão vendo! E lógico: com toda a visão de um mundo artístico de alguém leigo no assunto, crua na verdade…Sem noção do que era ou poderia ser a profissão de artista.

Foto: Pixabay

Foram anos muito marcantes na minha vida, pois alguns meses depois que eu entrei no grupo do atelier, meu pai morreu…Eu diria que, naquele momento, mais do que em qualquer outro na minha vida, a arte me segurou e me ajudou a me reerguer… Mas, não foi só a arte! Foi também quem estudava comigo no atelier! Éramos 18 pessoas em média, que faziam parte do grupo do atelier e, em sua maioria, mulheres!

O mais interessante é que eu era a mais novinha, a caçula da turma, pois a grande maioria já era artistas, mulheres mais maduras, artistas experientes! (E que vou falar de cada uma por aqui esse ano). Fazíamos exposições todos os anos e cada uma mais interessante e intensa que a outra. Tantas linguagens diferentes, materiais…. Pena que poucas pessoas guardam ainda materiais dessas mostras! Dariam um livro! 

Foto: Pinterest

Eu chegava no atelier, no dia da aula, com meu “walkman” e carregada de material! E simplesmente tudo fluía… Acabava saindo sempre com mais de duas obras! Foi uma época tão marcante na minha vida e que influenciou tanto meu trabalho, que toda vez que vou na Leticia, tomar um café, invariavelmente em algum momento, me sinto a mesma garota de tênis All Star, mochila nas costas cheias de latas de tintas, e Walkman no ouvido, chegando com os sonhos todos enrolados nas folhas do papelão que eu usava para pintar!

Quando começamos a pintar, todo artista tem aquela alegria e exaltação, uma espécie de energia nos move e nos entusiasma! Com o tempo e as experiências, creio que vamos criando uma casca que nos permite sermos mais profissionais, mas muito menos entusiastas! E esse entusiasmo faz falta…

O engraçado é que, quando faço a mesma coisa que 35 anos atrás (toda vez, antes de começar a aula, eu andava pelo atelier da Leticia, admirando o acervo e deixando a arte me guiar), toda a energia volta! E o entusiasmo pelo trabalho, pela novidade, a vontade de trabalhar!


Foto de Mary Cherkesova no Pexels

Vocês têm alguém ou algum lugar que se sentem acolhidos ou motivados? Já perceberam como precisamos disso exatamente nesse momento que estamos tentando sobreviver? Claro, muitas coisas mudaram, muitas artistas já não estão entre nós, outras continuam na lida… Mas a vivência com essas pessoas me marcaram para sempre!

Espero que esse momento sirva para nos reconectarmos com o que realmente nos importa e que a arte esteja sempre presente!

Boa semana, pessoal! 

Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.


Foto:  cottonbro no Pexels

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