Por Ângela Diana
Começo hoje com uma pergunta: Quantas vezes você foi VOLUNTÁRIO na sua vida?
Com comprometimento, ações, objetivos?
Durante toda minha carreira, na medida do possível, eu faço algum trabalho voluntário ligado às artes!
Este ano comecei a dar curso de montagem de bijoux no Grupo Santa Ana, da nossa paróquia do bairro (Paróquia Nossa Senhora Aparecida, jardim Igapó).
Duas áreas que eu curto muito e, juntas, ainda ajudam as pessoas a ganhar um extra: dar aula e montar bijoux…E dar aula sobre o processo de criação de cada uma.
Falando especificamente desse projeto, abranjo mais as meninas do grupo 50+, na sua maioria.
Somos em poucas, o que facilita a aula.
As oficinas acontecem todas as segundas à tarde e esse grupo (inclusive já falei dele) foi fundado por dona Antonia , dona Almerinda e outras corajosas ! Pessoas de muito impacto positivo na comunidade, mulheres que sempre cuidaram da casa, marido, filhos e das pessoas da comunidade!
Fazendo trabalho VOLUNTÁRIO, com gosto e prazer, sem colocar o ego na frente, mas pensando no TODO.
Em países como Estados Unidos , Canadá etc, já é enraizada a ideia do voluntariado.
Nossos primos, que moram no Canadá, nos disseram, que determinadas comunidades se unem para saírem em um dia, combinado nas redes sociais, para arrumarem um jardim público, plantarem flores, limparem algum espaço que TODOS usam!
O inverso da mentalidade do brasileiro. Aqui o PÚBLICO é de NINGUÉM, lá o PÚBLICO é DE TODO MUNDO.
Trabalho voluntário
Existe uma coisa muito importante quando se quer ser voluntário, principalmente quando se leva a arte em suas várias formas para as pessoas: ensinar não é uma via de mão única! Eu sempre sigo essa frase do escritor Richard Bach: “Você ensina o que mais precisa aprender”!
Em todos o projetos que eu dei aula, aprendi muito mais do que ensinei.
Nesse grupo, temos várias idades! E a mulherada de mais de 70 arrasa!
Todas são ótimas! Mas é incrivel ver aquelas mulheres, que já passaram “o pão que o diabo amassou”, sorrindo! De bem com a vida, com seus corpos, enfrentando problemas e toda segunda lá nas aulas (o grupo tem várias aulas e todas são voluntárias).
Crochê, pintura no tecido, macramê, bordado…
Momento do café, oração em conjunto… O dia passa e, no final de uma segunda feira, muitos problemas parecem pequenos, pois se aquelas mulheres estão ali, depois de perdas, doenças, falta de grana muitas vezes, trabalho duro, criação de filhos, filhas, netos, netas, bisnetos… E ainda tem uma energia forte e vontade de viver. Quem sou eu, nos meus 54 ano, pra deixar a vida me atropelar?
Ah! E o resultado das aulas desse ano?? Colares, pulseiras, prontos e alguns vendidos!!
Logo mais, elas estarão consertando suas bijoux e de outras pessoas, praticando o upcycling e ainda ganhando uma graninha.
Passei para elas o famoso “nozinho”! Uma coisa simples e que quase nínguem mais faz na cidade! Os nozinhos são uma técnica de alta joalheria, que hoje em dia a gente até acha no Youtube, mas poucos fazem.
É fazer nós entre contas de pérolas, pedras, ou outros materiais… Além de dar espaçamento, eles evitam que caso um colar arrebente, as contas se percam e uma não bate na outra…
Imaginem um valioso colar de pérolas, que quando arrebenta essas peças se percam! Arte, né, gente? Imaginação e pesquisas para criar (recriar) unidos às técnicas que outras e outros artistas desenvolveram e foi passando de geração em geração…
No nosso pequeno grupo, as meninas tambem darão aulas, uma de macramê, outra de costura e assim por diante… A ideia é unir o que elas fazem muito bem, com a construção de uma peça única de bijou, para que cada uma possa fazer suas próprias coleções!
Quer mais “chique” e sofisticado que isso?
Trabalho voluntário, boa vontade de todas, todos e todes, momentos de partilha da vida, do café e da ARTE!
Mulheres se unindo, para ensinar e aprender, ouvindo e falando da vida, das experiências….Como nossas ancestrais!
O supra sumo da passagem de conhecimento de uma geração para outra…
E a arte em todas as suas possibilidades sempre ali!
Mas tem uma coisa muito importante: Ninguém pode se achar o “mestre supremo”, aprender e ensinar deve ser uma TROCA!
Gente que se acha DONA ou DONO do conhecimento acaba virando um ser humano “engessado”, dentro de um casulo, fechado para continuar aprendendo, exercitando o cérebro !
O cérebro é o músculo mais importante e desconhecido do nosso corpo, mas uma coisa é certa: se ele não tiver novas conexões (sinapses) vai murchando, morrendo…
Exercite sua cabeça, seu coração, a generosidade de aprender e ensinar… Dê tempo e espaço na sua vida para a arte (e toda técnica faz parte disso: crochê, bordado, costura, pintura, desenho..tantassss!)
Quero saber de vocês! Quem já fez ou faz trabalho voluntario? Principalmente no ramo das artes e artesanato? Quais suas experiências mais importantes? O que a arte e o voluntariado te trouxe para a vida ?
Me mandem por aqui! Vou adorar saber!
E lógico..
Até o final do ano vou postando o resultado da oficina e depois, se elas me permitirem, eu conto os nomes de quem fez!
Pax vobiscum para todas, todes e todos!
Ângela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos. Instagram angela_dianarte
Leia todas as colunas de Arte
Fotos: Acervo pessoal
(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.
1 comentário
O trabalho voluntário sempre fez parte da minha vida, em diversas áreas, mas principalmente com relação à proteção animal. Coloco tb outra questão que vejo sempre em quem faz voluntário: divulgar ou não divulgar? Alguns acham que divulgar faz pra se “aparecer” , outros… pra incentivar… eis um dilema. Eu sempre preferi o anonimato.