(Ou como é estar numa loja de bijoux)
Bom, para sobreviver, nós, artistas, fazemos muitas coisas. Desde pintar paredes até transformar móveis. Mas estou vivendo uma experiência digna de compartilhar nessa coluna: a de comerciante.
Como já escrevi aqui, é bem complicado um criativo ser das exatas, por serem dois lados opostos do cérebro que regem essas características. O ser humano, porém se adapta a muitas situações inusitadas…
Á quase dois anos eu estou numa loja de bijous, e lido com clientes, compras, montagens, fornecedores, e as infernais e queridas maquininhas…
Escrevo a coluna na loja, almoço na loja e tomo café na loja…Meu atelier, que funciona em casa mudou o foco temporariamente.
E como ser artista?
Então gente…para começar, eu SOU artista, isso vale para todos os artistas…Nós nunca deixamos de SER, apenas mudamos o foco.
Outro dia, montamos um pingente…Não um qualquer, mas um que é uma pequena escultura e que lembra as obras do Alexander Calder (seus móbiles são muito conhecidos e suas esculturas cinéticas).

Lido com todos os elementos que fazem parte de um desenho ou de uma pintura: luz, sombra, cores, configuração, formas, movimento. E com a história!
História da arte, da moda, suas influencias e tendências.
Para quem está acostumado a lidar com arte, descobrir materiais novos como o Ródio é uma maravilha, um brinco de ródio pode me inspirar a fazer uma escultura ou vice-versa, uma pérola de agua doce me “conta” várias historias sobre como cada uma delas se formou nos rios e cada pedra como o quartzo rosa guarda seus simbolismos que atraem as pessoas…
Eu tenho conhecido também muitos designers novos. Eles levam para outro patamar um simples colar.
O mais interessante é ver como tem gente que fica constrangida de comprar mais uma peça, o que mais ouço é “nem precisava, já tenho tantas”…O que as pessoas não sabem é que colecionar peças diferentes é tão válido como colecionar moda, vestidos de grifes famosas e afins, as peças mais diferentes são objetos para colecionadores pois são de tiragem limitada ,e por trás de cada uma delas existe um artista que as criou, o ourives que as montou, e assim vai…
Todo mundo tem uma peça que é “sentimental”, aquele que tem um simbolismo maior, a que agrega mais lembranças boas, aquela peça que você nunca esquece…E elas dizem muito de quem as usa e da forma que usam.
Não é difícil enxergar a arte por aqui, montar uma vitrine por exemplo, é organizar as peças e os acessórios como uma exposição de esculturas, trabalhar com as cores e formas em uma espaço delimitado e ainda criar uma expectativa , um jeito de harmonizar tudo para que as pessoas enxerguem a beleza da peça ou o” conjunto da obra”.
Muita gente não tem noção de que alguns tipos de modelo vem da idade média ou mais…Que as pedras já eram usadas pelo ser humano antes dele se conscientizar de ser “gente”, que o adorno faz parte do nosso ser e que a vida começou na África e é de lá que além dos nossos ancestrais, vieram a madeira , as cores fortes, as estampas…Isso sem falar do oriente e Oriente Médio….Enfim, somos todos como uma colcha de retalhos muito colorida!
Muita gente me pergunta se eu mudei de profissão e resposta é não. Artista não deixa de ser artista porque não está pintando ou desenhando, isso seria diminuir a importância da arte nas nossas vidas…Eu carrego a arte dentro de mim, para onde quer que eu vá e consigo enxerga-la nas mínimas coisas…Eu e todos os artistas que conheço.
A arte está por toda parte, é só estar disposto ou disposta a enxergar!
Boa semana para todos !
Fotos: Acervo pessoal
Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.