Em algumas colunas, tenho citado que, se uma obra de arte não causa nada, é porque existe algo errado com ela…Pois bem, creio que devo mudar um pouco essa opinião.
Não sei o que está acontecendo conosco, seres humanos. O nível de indiferença está cada dia mais perturbador!
A gente observa isso andando na rua. Pessoas com seus celulares, absortas na telinha, atravessando desafiadoramente fora da faixa, sem olhar para as outras.
Tive essa experiência com o painel que fiz para o HiperMuffato em 2001. Era um painel de dez metros de comprimento e dois e meio de altura, ele ficava no restaurante. Qual a minha surpresa quando, sentada lá para observar a reação nas pessoas e não vi absolutamente nada, na verdade a maioria estava olhando para o próprio prato ou para o celular…Triste!
O painel ficou 10 anos no restaurante e, infelizmente, foi retirado de lá, assim como de outros artistas como o Paulo Menten ou o da Dolores Branco que estavam no mesmo mercado e tinham oito metros cada um!s
Por isso, muitos artistas optam por fazerem grandes painéis ou desafiarem a ordem vigente, fazendo obras que instigam ou lidam com temas como sexo, drogas, rock’n roll!
A situação chegou ao ponto de alguns artistas criarem instalações para gerarem inquietações, como criar obras que utilizam sangue, esperma e outros que tais.
A velha história de “falem bem ou mal, mas falem de mim”!
As pessoas precisam ser educadas para olhar e VER realmente, e parece que, nos dias de hoje, elas precisam ser educadas para voltarem a sentir alguma coisa, qualquer coisa.
E falando no Rock, propagandas institucionais como Médicos Sem Fronteiras usam imagens, textos e músicas que pretendem atingir o mais humano do ser humano…Tarefa bem difícil!!
Fico pensando o quanto o mundo é mesmo um lugar extraordinário e o quanto a gente perde tempo com coisas inúteis, fúteis como a vida pessoal de algum artista, tipo; o que ele come, como ele vive, o que ele faz no banheiro…
Tantas obras de arte que são oásis, músicas que nos fazem sair do corpo, um céu azul de inverno, e a gente aqui…. Abstraídos para fugir? Não sei! Gostaria muito de saber sobre o que as pessoas sentem ou pensam nesse estado de espírito.
Como artista, estudar as reações das pessoas faz parte do dia a dia…E ‘as vezes até me surpreendo, mas infelizmente o que me assusta muito é a indiferença frente a grandes obras ou as grandes tragédias ou ao sofrimento de outras pessoas….Parece que somos um bando de zumbis, andando pela vida sem destino….Assustador!
Explica-se o enorme sucesso de séries de zumbis…. (eu também adoro, gente!) Parecemos aqueles zumbis de vez em quando, ah!!parecemos mesmo…Mas, ao invés de comermos carne humana, nossa fome é de notícias fúteis, de tragédias recheadas de sangue e assim seguimos em frente, labutando, labutando…
Fotos: Acervo pessoal
Angela Diana
Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.