Quantas vezes vocês estiveram em uma apresentação da orquestra, por exemplo, e ouviram um toque de celular?
Começo a coluna de hoje, nesse dia de chuva com uma péssima perspectiva da nossa nova velha cultura: a do “baratinho”. E o que tem haver com a pergunta acima? Explico:
Sempre tem quem está numa exposição de artes e comenta: “isso aí é arte, mas assim até eu fazia!”, assim como tem gente que que é capaz de ser grosseiro com qualquer pessoa que está atrás de um balcão.
Talvez fosse necessário fazer um manual para quem vai em espetáculos, exposições de arte, apresentações de dança ou de música!
Não adianta a pessoa estar com um vestido maravilhoso ou um terno incrível e falar que até “ele faria”, não! Não faria! Você pode até não gostar do que vê, mas é inadmissível essa falta de respeito…
Não pensem que é qualquer um, já tive a oportunidade de ver médicos, advogados, professores, arquitetos fazerem isso, o que nos leva a pensar é que não é falta de “estudo” mas, realmente, uma crença que o que o artista faz não é difícil e que qualquer um pode fazer… Anos de estudo da forma, cor ou outros afins não importa, todos se acham “gênios”! (Até mesmo “gênios”, como Pablo Picasso ou DaVinci, estudaram a vida toda)
E sobre ser grosseiro…Bom, parece que é praxe do brasileiro se achar melhor que qualquer um que pode parecer ter um trabalho “subserviente”, assim como os lixeiros, coveiros, atendentes de lojas ou outros. Parece pensar que o que não demanda de “diploma” não tem a mínima importância.
O que muita gente não sabe é que diploma não é significado do “saber” ou de ter experiência em alguma profissão e que todo trabalho deve ser respeitado, pois nós vivemos em sociedade e um depende do outro! Não existe trabalho menos importante, existe “trabalho”!
Uma vez, fiz alguns trabalhos para um escritório de advocacia, eu estava numa fase de misturar desenhos com colagem, e fiz três obras para a sala de um deles. Fiquei sabendo, anos atrás, que o referido fez um cursinho de pintura e mexeu nos meus trabalhos, colando outras coisas em cima! Como nossa lei é lenta, não tive nem como processá-lo!
Você pode comprar uma obra de um artista, mas existe uma coisa chamada “direitos autorais”. Muita burrice interferir na obra de um artista que você compra, cada vez que o trabalho é descaracterizado, você perde seu investimento. Ele era um ADVOGADO!
Aliás, por falar em investimento, essa é outra coisa que é crença aqui nesse país, que arte não é investimento, mas uma forma de você passar fome, bem…Se a profissão fosse respeitada e os profissionais também, teríamos mais empregos.
Mais da metade da renda de países como a França, Inglaterra, Estados Unidos, vem da arte, museus, exposições, desfiles, música, dança, filmes, teatro…A Europa tem mais de três mil anos na nossa frente, deve saber um pouco mais que a gente, não é?!
Com tudo isso, chegamos na cultura do “baratinho”, o barato é ter aparência de gente culta e mesmo que você tenha muito dinheiro, compra apenas para ter status, poucos são os que realmente dão valor a cultura.
Vejo isso todos os dias, tanto no mundo das artes…Quantos acham caro uma obra que levou meses para ficar pronta, que leva a carga emocional de quem fez, que pode ser um marco para a história das artes no pais, que é única….mas preferem comprar uma que combine com o sofá e que muitas vezes é uma cópia. É mais fácil que realmente procurar entender e ver como investimento, procurando profissionais sérios para instrui-los.
O brasileiro gosta de “aparecer”, de levar vantagem, de ter o tal “jeitinho horroroso brasileiro”, e muitas vezes isso nos faz sermos malvistos lá fora.
Sempre por trás de um “baratinho” existe trabalho mal remunerado ou escravo, a obra de algum artista sendo reproduzida sem a autorização dele, e tudo isso não passa de pequenas corrupções.
Não digo que só coisas caras tem valor, mas deveríamos ter em mente que muitas vezes o “barato sai caro demais”!
Ninguém nasce sabendo, então se existe algo que você não saiba e quer saber, estude! E seja educado ou educada…Se você não é artista e não entende, ao menos respeite! Pois respeito é bom e cabe em qualquer lugar!
Bom restinho de semana de chuva fresca e cheiro de primavera!
Fotos: acervo pessoal
Angela Diana

Sou londrinense e me dedico à arte desde 1986 quando pisei pela primeira vez no atelier de Leticia Marquez. Fui co-fundadora da Oficina de Arte, em parceria com Mira Benvenuto e atuo nas áreas de pintura, escultura, desenho e orientação de artes para adolescentes e adultos.
Uma resposta
Querida Angela, sou fotografo comercial e sei bem como a coisa funciona. O pior é que ta tudo virando isso, apenas com a diferença é que acham que somos maconheiros em relação a cabelereiros, etc, etc. O brasileiro ta virando cada vez mais baratinho. Uma fotinho todo mundo faz, rouba da internet e o prato horrivel do buteco vira um a la carte formidável. Artes plasticas então nem se fale.