Projeto Moara: mulheres resgatando mulheres

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Publicitária, empresária e psicóloga – com uma rede de sustentação formada por outras profissionais – se unem para dar resgatar a independência financeira de vítimas de violência doméstica

Telma Elorza

Equipe O LONDRINENSE

Tudo começou com um post no Facebook, no Dia Internacional da Mulher, 8 de março desde ano. Em seu perfil, a publicitária Patrícia Hemerly escreveu sobre o fato de ser mulher e como ela acreditava que poderia voar, ter uma vida leve e engraçada, de como poderia escrever sua história do jeito que ela quisesse, se dedicando a isso. E lançou as perguntas: “O que você pode fazer pra melhorar a vida de outra mulher? O que você pode fazer pra elas se tornarem autônomas e independentes financeiramente?” E conclamou: “Dê uma mão real pra elas. Isso pode fazer diferença!”

Patrícia Hemerly

O post mexeu com muitas pessoas. Muita gente passou a perguntar como poderia participar do projeto e ajudar outras mulheres. “Eu falava, gente, eu não tenho projeto”, conta Patrícia. Mas isso mudou rapidinho. A empresária Mila Bearzi e a psicóloga e gestora de RH Ester Falaschi a chamaram no particular praticamente juntas, embora não se conhecessem. As duas queriam conversar e aprofundar o assunto. Ver como poderiam realmente ajudar mulheres a se tornarem autônomas e independentes financeiramente. Alguns cafés depois, nascia o Projeto Moara. “Que, em tupi, quer dizer aquela que auxilia no parto, ajuda a dar a luz. Que é justamente o que queremos. Ajudar a mulher vítima da violência a nascer de novo, a tomar as rédeas da sua vida”, explica Ester.

“O que a gente percebe é que muitas mulheres não conseguem se livrar da vida de abuso e violência, não tomam uma atitude para mudar isso, porque dependem material e financeiramente de seus abusadores”, explica Patrícia. Segunda elas, a maioria tem uma grande característica em comum: a dependência financeira. “Não existe classe social determinada. Não é só mulheres pobres que são vítimas da violência. Mas esse fator, depender do parceiro para viver, é frequente”, diz. Patrícia. A ideia das três é dar treinamento, capacitação, estruturação do negócio e até uma linha de crédito a juros abaixo do mercado para que essas mulheres deixem de ser vítimas e possam se reestruturar financeiramente através de um negócio próprio ou emprego. O projeto não tem nenhum apoio, verba ou ligação com o poder público nem com partidos políticos.

Ester Falaschi

Hoje, de acordo com elas, já há instituições estruturadas que atendem as mulheres vítimas de violência, com apoio médico e psicológico, local para se abrigar com os filhos e toda essa parte de acolhimento. Mas que não têm condições de treiná-las e inseri-las no mercado de trabalho, a não ser com cursos de fabricação de sabonetes e outros tipos de artesanato. “Isso, no entanto, não as capacita para serem totalmente independentes financeiramente, porque não dão a noção como gerenciar seu próprio negócio”, diz Ester. Por outro lado, o projeto não tem condições de atender integralmente as vítimas da violência, principalmente na parte psicológica. “Algumas mulheres estão tão destruídas psicologicamente que não tem condições de pensar em andar com as próprias pernas. Com essas, nosso trabalho seria em vão”, avalia.

Nessa fase piloto em que está, o Moara pretende ajudar apenas cinco mulheres para que, até março do ano que vem, elas já possam estar caminhando sozinhas. Nesse ano, as cinco terão acompanhamento dentro das expertizes das três e toda uma rede de sustentação formada por outras mulheres que querem participar. “Teve uma doida de Curitiba que veio para cá, tomar café comigo, porque queria ajudar de qualquer jeito”, conta Patrícia. Essa rede vai colaborar com o que for necessário, de dinheiro a cursos. “Teremos um microcrédito próprio, a juros baixíssimos. Não vamos doar o dinheiro. Elas terão que trabalhar e pagar. Isso é muito importante para o resgate da própria autoestima”, diz Ester.

Mila Bearzi

As mulheres devem apresentar suas ideias para um negócio – algo que saibam fazer bem, por exemplo, ou que possam receber treinamento. “Ela pode fazer conserva de pimenta para vender, por exemplo, ou ser manicure, abrir um salão. Nós vamos fazer a análise do negócio, ver as possibilidades, os pontos que precisam ser agregados, da gestão do negócio à divulgação do produto. Mas ela vai ter que tomar à frente”, explica Ester. Isso é importante, segundo a psicóloga, para quem nunca teve controle de nada na vida.

A segunda ação é a empregabilidade, se a mulher não tiver perfil empreendedor, será capacitada para o mercado de trabalho. “Vamos ajudar na elaboração de currículo, prepará-la para entrevistas e até encaminhar para treinamento”, diz Ester. Além disso, a rede de sustentação também entra nesse ponto. “Temos empresas parceiras que já comprometeram a abrir uma vaga cada”, conta Patrícia.

A rede também será responsável por todo apoio jurídico e contábil. O detalhe: toda a rede é formada por mulheres. “O modelo é importante. A maioria casou cedo para fugir da violência da casa dos pais e caiu em outro modelo de violência com o marido. Puseram na sua cabeça que ela não era nada, que não podia fazer nada e era melhor aceitar calada. O exemplo mostrará que não é bem assim. Isso é importante para “, diz Ester.

Duas mulheres já estão sendo acompanhadas pelo projeto e outras três estão fase de seleção, que já estão fazendo o dever de casa na questão do modelo de negócio. “Passamos um questionário que elas estão tendo estudar para responder”, conta Patrícia. Estas vieram através do próprio post do Facebook: pediram ajuda. As outras três devem vir das instituições de apoio. “Elas precisam ter uma avaliação psicológica séria para que possamos saber que elas já estão prontas para seguir em frente”, diz Ester.

Fotos: Rafael Bastos

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