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Prazer, Tato, garoto de programa

Ele chamou a atenção ao fazer um desabafo no Facebook, por conta do preconceito das pessoas. Ele vive de sexo mas isso não o torna pior que ninguém

Telma Elorza

Equipe O LONDRINENSE

Ele é daquele tipo de homem que as mulheres dão uma viradinha no pescoço para observar melhor ao passar na rua. Alto, moreno, barbudo, com o corpo que definimos como “gostoso”, sem ser bombado. Inteligente, universitário, pode conversar sobre todos os assuntos com desenvoltura. Ou seja, o cara ideal. E ele pode ser seu, por algumas horas, pela módica quantia de R$200.

Tato Silva (nome de guerra), 27 anos, estudante de Direito de uma faculdade de Londrina, é um garoto de programa. Está no Facebook, no Tinder, Badoo e outros aplicativos de relacionamento. Também aparece em sites de anúncios de prostituição. Atende homens, mulheres e casais. Nem sempre isso significa sexo, embora 80% dos atendimentos seja para encontros sexuais. “Já fui chamado para pegar um cineminha, um jantar num restaurante que a pessoa queria conhecer, um pastelzinho na feira da lua, um show, uma viagem e até mesmo uma caminhada no lago”, conta.

Ele chamou a atenção dO LONDRINENSE ao postar um desabafo no Facebook, depois ter o perfil principal derrubado por denúncias. Ali ele diz que o fato de ser acompanhante não o torna pior ou melhor que ninguém. “A maldade da minha profissão – sim, chamo de profissão – não está em nós que a praticamos, mas em quem a julga sem conhecer”, disse.  Então vamos conhecer.

Numa época muito ruim, foi a salvação

Tato entrou na prostituição masculina meio por acaso. Há cerca de um ano e meio, perdeu o emprego, brigou com a família, saiu de casa com a roupa do corpo e uma mochila. Ficou desnorteado, não tinha amigos ou parentes com quem contar. Dormiu a primeira noite na Rodoviária de Londrina. Até que conseguiu se conectar com uma amiga e resolveu abrir sua situação.

“Ela veio e me levou para sua casa. Numa conversa, ela falou de uma amiga que era a fim de sair comigo. Ela mesma marcou o encontro com a menina. Sai com a menina, bebemos, comemos, conversamos, rimos, demos uns beijos. Ela sugeriu que fossemos para um motel.  Passamos um bom tempo juntos. Ao final, ao me levar de volta, tirou da bolsa uma quantia significativa de dinheiro e disse que ia me recomendar para as amigas. Eu fiquei sem reação, mas concordei”, contou. Nas semanas seguintes, se encontraram outras vezes. “Com o dinheiro aluguei uma quitinete”, disse.

A prostituição lhe garante um bom padrão de vida (Foto: Acervo pessoal)

“Eu sou a academia, o salão…”

Tato viu que a prostituição era a saída de uma situação ruim. Fez contatos, anunciou em sites específicos, teve indicações. Hoje tem uma cartela de clientes. A maioria mulheres. E elas têm um perfil meio específico: são mulheres maduras, casadas, divorciadas ou viúvas, empresárias ou do lar, frequentam a alta sociedade, os grandes eventos e estão “ocupadas com os compromissos da igreja ou da ONG em que atuam”. “Costumo brincar que tenho vários apelidos. Eu sou a academia, o salão, a igreja, a ONG, a reunião com as amigas, o shopping, o mercado…”, contou.

A família dele não sabe o que faz. Nem a maioria dos amigos, apenas alguns poucos que,por sinal, lhe dão a maior força. Para ele, a profissão é temporária, embora una um alto rendimento com prazer. Quer se formar e se dedicar à carreira de advogado. Por enquanto, vai fazendo seu pé de meia. Como faz uma média de cinco encontros dia, chega a tirar quase R$ 1 mil/dia. Mas o valor pode aumentar, se for para passar a noite/ou fim de semana.

Nem tudo que reluz é ouro

Aposto que, nessa altura, vai ter muito cara pensando: “vou virar prostituto, sexo e dinheiro, que coisa boa!” Pensou, não pensou? Mas nem tudo são flores na vida de um garoto de programa. Há certas dificuldades que é preciso ter jogo de cintura para contornar. “Você nunca sabe quem é seu próximo cliente. Pode ser uma pessoa totalmente descontrolada, já aconteceu de eu ter que enfrentar situações bem complexas. A gente também nunca sabe se essa pessoa está sendo seguida pelo marido/parceiro, e se isso pode virar violência”, disse.

Além disso, segundo ele,  há pessoas que querem obrigar a usar drogas e bebidas com elas. “Eu não uso drogas e só bebo socialmente, uma cervejinha de vez em quando, então é muito complicado”, explicou. Há também aqueles que não querem pagar, depois de efetuado o serviço. “E perigos também. Você nunca sabe se a cliente é psicopata. Quem está nesse mundo, está sujeito à muita coisa. Os homens nem tanto, mas as mulheres correm um risco que ninguém tem noção”, afirmou.

Há ocasiões em que ele tem que dispensar cliente. “A gente combina fazer com uma pessoa e aparecem três. Ou a pessoa está totalmente drogada, alcoolizada, suja, com mau odor”, contou. Mau odor, aliás, foi causa de uma brochada. “Quando ela tirou as roupas e veio aquele cheiro, não consegui e tive que falar para ela. ‘Olha nem vou cobrar de você mas não dá, eu desisto’”, disse. Viagra, só usou em duas ou três ocasiões, em casos que exagerou na bebida em dia anterior ou dormiu tarde, “estava muito cansado ou tive dor de cabeça e fiquei com receio de não dar conta. Mas é raro”, garantiu.

É preciso se cuidar num meio perigoso

Uso de camisinha é regra, ele faz exames periódicos frequentes e se cuida ao máximo, tanto que é doador de sangue também. “Eu me protejo ao máximo que eu posso porque esse ramo bem perigoso. Eu não faço nada que eu não queira, essa a regra que me impus.  Se a cliente não aceita, a gente dá tchau e cada um para seu lado”, diz.

Sobre o futuro, ele diz que vai parar de se prostituir. “Sou concurseiro nato, logo me formo, vou trabalhar na minha área e prestar concurso. Pode ser que, uma hora ou outra, faça um programa. Mas não fazer disso meu meio de vida, não”, afirma.

Foto: VisualHunt

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5 Comentários

  1. Portal tão caprichado com uma matéria tão vulgar dessas. Que vergonha!

  2. Muito interessante e nada óbvia tua matéria, Telma. Parabéns.

  3. Aorei a matéria!
    Há algum tempo eu fantasio em contratar um profissional assim, mas é aquele lance de que a gente não sabe como procurar, tem medo de ser perigoso…
    Mas gostei das dicas.

  4. Eu amei! Achei bem interessante trazer visibilidade pra essa profissão tão marginalizada. Conheço dois ou três que são GP. Infelizmente já soube de casos de violência e até homicídio por cliente que não quis pagar. A sociedade é hipócrita já que consome sexo na TV, na esquina, na internet, mas não pode deixar ninguém saber.

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