Se 2019 marcou o fim da linha para o Beetle, o amor dos colecionadores promete ser eterno
Vinicius Fonseca
O LONDRINENSE
O ano de 2020 começou triste para muitos dos apaixonados pelo antigomobilismo, principalmente os amantes do Fusca ou Beetle, como preferirem. A razão desse sentimento, a VolksWagen (VW), anunciou, com um emocionante vídeo de despedida, que não continuará a produzir um de seus mais icônicos modelos.
O vídeo, feito em animação mostra a trajetória do carrinho e como ele fez parte da vida e marcou gerações de motoristas pelo mundo. Tudo isso ao som de um coral de crianças entoando Let It Be dos quase charás Beatles. (Assista o vídeo no link: https://www.youtube.com/watch?v=uKuYXNLGlOc).
Conta a história que o Fusca começou a ser produzido por meio de um pedido de Hitler a Porsche (fundador da marca de carros esportivos) ainda na década de 30. O premiê alemão queria ter um veículo resistente e que pudesse andar sem problemas pelas estradas do País em tempos de Guerra. Comercialmente a VW iniciou a distribuição do “besouro” em 1945.
No Brasil o automóvel só chegaria em janeiro de 1959, mas criaria uma legião de fãs e se tornaria, para vários deles, parte de uma tradição passada de pai para filho, mais ou menos como mostra o vídeo. A ligação do brasileiro com o motorizado alemão é tanta que, por aqui, ele tem uma data só para ele. Amanhã, 20 de janeiro é o Dia Nacional do Fusca.
Em Londrina e região, o amor pelo carro é fácil de se perceber nas ruas. Há diferentes gerações dos Beetles rodando por aí. Claro que as versões mais clássicas são também as mais populares. O fotógrafo Marcus Vinícius Simão Machado, por exemplo, tem um Fusca 1300, fabricado em 1979. “Meu pai teve um Fusca ano 70 e minha paixão começou ali. Foi em um Fusca que aprendi a dirigir”, lembra.
Dono de um lindo Fusca desde 2013, Machado diz ter sido escolhido pelo automóvel. Conforme ele conta, a ideia era comprar um Fusca na cor vermelha, mas no dia da compra acabou se encantando por outro. “O vermelho estava sem as chaves, no dia (da compra), e o azul estava do lado. Brinco que ele quem me escolheu”, diz.

E quem, ao ver um Fusca azul na rua, nunca lançou um “tapa” no colega? Carinhosamente chamado de Smurf por seu dono, o fusca do fotógrafo aparentemente manterá essa brincadeira viva por muito tempo, afinal, como Machado mesmo diz, o carro topa qualquer parada “Ele é o meu faz tudo, carro único. Com ele vou ao trabalho, passeios e até pequenas viagens”, revela.
Apesar de ter completado no ano passado 40 anos de sua fabricação, o modelo de Fusca que está em posse de Machado sofreu, segundo o proprietário, poucas alterações com relação ao original, apenas um pequeno rebaixamento e a troca das rodas, pelas utilizadas no modelo do Fusca Mexicano.
Aliás, alguns cuidados com o carro ou mesmo pequenas alterações para deixa-lo ainda mais vistoso parecem ser prática comum entre alguns colecionadores. O funcionário público Wagner Pereira é dono de um Fusca 1968 e relata ter passado horas com o veículo na oficina para reformá-lo, até chegar no resultado atual. “Inicialmente estava o chassi de um lado, carroceria do outro, não tinha rodas nem parte mecânica. Tudo foi sendo ajustado de acordo com meu gosto. Eu ia diariamente na oficina das 08h às 11h pra acompanhar e participar do processo”, conta.
Com a carroceria na cor verde folha, o teto e assoalhos no padrão original e tapeçaria na cor vermelho turim, o fusca de Pereira não passa desapercebido em nenhum lugar, até mesmo pela sua potência. “Originalmente é 1300cc carburação simples. Como utilizo pra viagens, uso um 1600cc, dupla carburação solex 32”.

Ambos os colecionadores defendem que nada é capaz de substituir a emoção de se dirigir um modelo antigo de Fusca. Eles apontam ainda que a geração dos novos fuscas, a partir do final dos anos 90 com o New Beetle até a mais recente reestilização que deu adeus ao mercado em 2019, traziam consigo muita tecnologia embarcada. O que, segundo eles, limitava a essência do carro, feito para motoristas “bons de braço”.
Apesar das ressalvas, Machado e Pereira também são enfáticos em garantir que a paixão por Fusca seguirá viva, pois a paixão pela marca já se perpetuou e faz parte do imaginário popular, rendendo encontros, amigos e muitas histórias para contar.
No último encontro realizado por fusqueiros da região, na cidade de Ibiporã, dia 12/01, foram arrecadados quase 500 kg de alimento que serão doados para o asilo Padre Leone de Ibiporã
Um amor de idas e vindas
A decisão da VW de encerrar em definitivo a produção do Fusca no mundo marca o fim de uma história que começou no final dos anos 30, mas nem tudo está perdido para quem gosta do modelo.
Vale lembrar que essa não é a primeira vez que isso ocorre, inclusive no Brasil. O automóvel, ficou em produção aqui pela primeira vez, de 1959 até 1986. Depois disso passou a ser produzido apenas no México.
Em 1993, no entanto, o então presidente Itamar Franco, preocupado com a crise que assolava o País, pediu a volta do carro, por enxerga-lo como um veículo de baixo custo e que atendia as necessidades do povo. O modelo ficou conhecido como Fusca Itamar e durou até 1996.
Novamente no México, o Fusca ainda permaneceria em produção até 2003. Pouco antes disso, em 1997, a foi apresentada ao mundo a linha New Beetle. Esta passou por uma reestilização em 2011 e no ano seguinte retornou ao Brasil atendendo pelo nome de Novo Fusca, onde permaneceu até 2017.
Esse histórico faz Machado acreditar em um possível retorno no futuro. “O nome Fusca tem um apelo muito forte no automobilismo. Talvez um dia ele possa voltar, até por uma jogada de marketing”, deduz.