Figura popular na cidade, há duas décadas ele vende seus artigos artesanais perto do Teatro Ouro Verde. Não liga para rótulos, toca adiante o ofício e o estilo que escolheu
Antônio Mariano Júnior
Equipe O Londrinense
Quase um ritual praticado diariamente. Chega ao local de trabalho, estica um pano verde sobre no chão e, cuidadosamente, dispõe os produtos confeccionados manualmente. Os artigos também estão à mostra num painel feito com pano verde e tubos de conexão: brincos, pulseiras, colares, entre outras opções.
Tudo pronto, aguarda a clientela. De boa. Há duas décadas, Wagner Saraiva, o Brasília, ocupa um lugar de destaque nas imediações do Teatro Ouro Verde, em Londrina. Mais exatamente,no Calçadão, entre a avenida Rio de Janeiro e Rua Minas Gerais, parte pavimentada ainda por petit pavê – melhorias, até agora, nada; alô, poder público!
Pois bem, Brasília tornou-se bastante popular naquele recanto, conhecido por agregar os “hippies” de Londrina. Desde o final da década de 1970, com ênfase nos anos 1980, os artesãos que por lá passaram foram denominados assim – pelo estilo de vida, pessoal e profissional, provavelmente.
Ele parece não ligar para rótulos. “O que eu faço é artesanato. Sou um artesão com estilo de vida diferente; hippie se assim as pessoas quiserem me definir”, avisa. “Gosto muito do faço e pronto”, complementa.
O apelido veio conta da capital federal do Brasil, onde nasceu em 8 de janeiro de 1968. Filho do meio. Tem duas irmãs. Chegou em Londrina em 1985, para onde se mudou com a família – o pai trabalhava numa empresa de consórcios. “Não conhecia p… nenhuma sobre a cidade, acabei gostando com o tempo”, conta.
Por conselho de uma amiga, que o considerava bonito e com jeito para os spots, ele inscreveu-se em uma escola de modelo e manequim. Ao que lembra, desfilou apenas na conclusão do curso que poderia, quem sabe, ser um modo de vida financeiro.
Essa “coisa aí” não era a dele. Desistiu antes de começar. Aliás, demorou para saber qual era a sua. Adorava a noitada, frequentou bares badalados da época como o Castelinho e Café Set. Namorou bastante. Não curte falar sobre sua vida pessoal.
“Artesanato já foi um meio de vida”
Popularidade e boniteza não bastavam para manter-se. Precisava fazer grana e, a partir de 1988, começou a vender pulseiras masculinas e femininas. Peças feitas artesanalmente e bem aceitas, principalmente, por universitários que lotavam eventos e bares como o Clube da Esquina.
Brasília resolveu vender seus produtos em altas temporadas de praias. Começou por Santa Catarina e foi longe – points bacanas no norte e nordeste brasileiros. Muitas idas e vindas. Em 1998, calcula, voltou de vez a Londrina. Questões familiares. Não entra em detalhes.
Fixou-se no Calçadão. Até hoje está lá, na dele, na boa. Vende seus artesanatos a partir de R$ 5,00. Alguns de seus artigos foram comercializados por até R$ 200,00, garante. Aceita encomendas.
Não reclama da vida que escolheu. Não tem casa, tem “moradia”. O que ganha, gasta para sobreviver. “O artesanato já foi um meio de vida. Tá difícil, atualmente. Mesmo assim pretendo fazer artesanato até quando eu morrer”, garante.
Ou seja, Brasília toca o destino adiante, longe das convenções sociais. Não demonstra insatisfação com a opção de vida feita. E boa! De boa! Na dele.
É um cara do bem! Da paz e do amor, bicho, tá ligado?!
Imagens: Antônio Mariano Júnior
Confira um breve bate-papo feito com Wagner Saraiva, o artesão e “hippie” conhecido por Brasília, com o Jornal O Londrinense.
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