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A velhice em um outro patamar!

Por Fábio Luporini

“Tem dias que eu fico pensando na vida e sinceramente não vejo saída. Como é, por exemplo, que dá pra entender, a gente mal nasce começa a morrer”. A canção, na voz de Vinicius de Moraes, Miúcha e Chico Buarque soa quase que como um questionamento filosófico. E, de fato, o é. A única certeza da vida é a morte e, mesmo assim, ainda receamos por esse momento e não o compreendemos muito bem. Mais que isso, teorizamos infinitas concepções sobre o que vem depois dela. E, às vezes, nos esquecemos de viver a vida.

Já o filósofo Marco Túlio Cícero, que viveu nos idos antes de Cristo, pensava sobre as questões ligadas à velhice. E chegava à conclusão ser ela uma questão natural, própria da natureza humana, motivo pelo qual considera estúpido achar ruim a velhice. Ao contrário, o ser humano deveria olhar para a velhice de maneira sábia. E isso o filósofo está dizendo numa época em que a expectativa de vida não ia muito além dos 30 anos. Hoje, no Brasil, e média de vida da população é de 76,8 anos. Alguns ultrapassam esse limiar, cada vez mais, atingindo idades que vão aos 80, 90 anos.

Olhar para a velhice como algo natural no curso de vida do ser humano é permitir compreender e aprender com os meandros da idade, com os aprendizados do avançar do tempo. Para Cícero, a velhice traz consigo o conhecimento e a prática das virtudes que, cultivadas em qualquer idade, dão bons frutos no fim da existência. Para ele, nós odiamos a velhice porque ela nos afasta da vida ativa, enfraquece o corpo, priva dos melhores prazeres e aproxima da morte. Entretanto, para cada um desses argumentos, Cícero tem um que os refuta.

Resumidamente, a valorização da alma e do intelecto alçam a velhice a um patamar que independe das questões e limitações do físico. E, mais ainda, a velhice possibilita uma série de conquistas que nem sempre são possíveis na juventude, como a liberdade, a sabedoria, entre outros aspectos. Além do que, obviamente, valorizar a velhice é reconhecer a importância da História e das histórias, vividas por quem já chegou a uma idade mais avançada. Portanto, que vivam os velhos ainda por muito tempo! E que saibamos receber a velhice quando ela chegar!

Fábio Luporini

Sou jornalista formado pela  Universidade Norte do Paraná e sociólogo formado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) . Fui repórter, editor e chefe de redação no extinto Jornal de Londrina (JL), atuei como produtor na RPC (afiliada da TV Globo), fundei o também extinto Portal Duo e trabalho como assessor de imprensa e professor de Filosofia, Sociologia, História, Redação e Geopolítica, em Londrina

Foto: Edu Carvalho no Pexels

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1 comentário

  1. Esse um tema muito importante nesses duas em que se quer negar a própria natureza da Vida.
    Envelhecer é um processo natural. Ter dignidade, saúde e tantas “conquistas” advindas da evolução devem ser também vistas, sempre, de maneira a ter uma vida melhor. Mas o que vemos, em grande parte das pessoas é, de certa forma, querer negar esse processo, e lamentavelmente ao invés de viverem bem (aproveitando as tecnologias) procuraram viver somente de aparência, querendo a todo custo parecerem “menos velhas”, pensando enganarem (para si próprias) mais jovens.
    Como se viver mais não fosse uma dádiva.
    E o texto do excelente Fábio Luporini tão bem esclarece os por quês.

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