Nos encontros, a Arte de Resolver

belinzona

Por André Luiz Lima

Na trajetória dos encontros, sempre compartilho momentos que ressoam comigo, tocando também aqueles que me ouvem, permitindo uma troca mútua. Sempre recorro à expressão da mão que se levanta e diz: “Me conte, me conte”. E hoje retorno à Suíça e meu encontro com a arte de resolver.

Foto: Acervo pessoal

Estava na Suíça quando uma amiga bailarina, bastante conhecida, me fez um pedido inesperado: substituí-la em um curso de última hora, pois precisava partir para Londres. O curso, voltado para profissionais que lidam com idosos ou casas de repouso, envolvia jogos artísticos e movimentos corporais, algo típico na Suíça.

Dado nosso histórico na Escola Internacional de Teatro, ela confiava em minhas habilidades. Começo a rir nervosamente só de lembrar desse momento que compartilho agora com vocês.

Ela organizou tudo rapidamente e partiu para Londres, enquanto eu me preparava para liderar os jogos de interpretação, com exercícios de movimento e improvisação.

Vale ressaltar que, como brasileiro, estava apenas de passagem pela Suíça naquele período, em um país conhecido por sua meticulosidade, língua e cultura distintas. Acho que vocês já entenderam a situação.

Lá fui eu, admitindo estar um pouco apreensivo. Fui alojado em uma montanha perto de Bellinzona, a capital da Suíça italiana. Certamente, se precisasse sair correndo de lá, não seria uma tarefa fácil. Ainda rio nervosamente ao lembrar disso.

Pela manhã, fui levado para a cidade em um ginásio esportivo. Minha aula seria na quadra, com todo aquele espaço e uma acústica terrível. Digo isso porque minhas aulas geralmente acontecem em espaços mais fechados, para melhor concentração.

Havia cerca de 40 pessoas presentes. A coordenação me apresentou e passou os horários das atividades técnicas antes de partir.

Ali estava eu, diante dos meus alunos e da enorme quadra, na Suíça.

Comecei a aula como um bom brasileiro e ator, animando a plateia para relaxar um pouco. Estávamos no meu processo, tudo corria bem, mas eu percebia algumas expectativas por parte dos alunos. Foi então que um representante se aproximou e disse: “André, e a coreografia?”

Eu respondi: “Oi?”

Ele insistiu: “A coreografia? Estamos aqui para aprender coreografia.”

Naquele momento, confesso que senti um frio na espinha. Mas, como bons aprendizes e profissionais, temos recursos e técnicas para lidar com situações inesperadas e, principalmente, resolvê-las.

Respirei fundo, olhei para ele e disse: “Claro, isso era apenas o aquecimento para uma preparação.”

Na resolução de problemas, é essencial pensar rápido. Eu não era um bailarino, mas tinha alguns conhecimentos de movimento e, claro, a ginga brasileira que eles não tinham. Bem, foi isso que me ocorreu na hora. Lembrei que havia levado um CD de lambada, que estava em alta na época, e isso me ajudou a resolver a situação inicial.

Preparei os alunos e, quando finalmente estávamos prontos para começar a coreografia, abri a capa do CD e… estava vazia! Sem música. Esse foi o segundo momento de apreensão, mas lembrei-me da palavra “resolver”.

Resolver situações com criatividade

Imediatamente, lembrei que um aluno havia mencionado ter música africana no carro, algo que eles apreciavam muito. Pedi para que ele buscasse, enquanto mantínhamos o clima e a energia elevados. Não se pode permitir que a energia caia, é preciso manter o foco e o ritmo até o final.

Ele trouxe o CD rapidamente e, animadamente, organizei os grupos em filas e diagonais, com movimentos altos, médios e baixos, contando rapidamente: “1, 2, 3, 1, 2, 3.” Com ritmo, alegria e unindo a preparação inicial de postura, observação e escuta, além do estado de alerta, conseguimos. Deu certo trazer aquela dose de alegria e movimento, com uma pitada de técnica. Não a técnica de um coreógrafo, mas a de alguém que precisava resolver a situação de forma profissional. Foi então que compreendi por que minha amiga pediu para que eu a substituísse.

É possível resolver situações difíceis, buscando seu repertório de conhecimentos, mas, para isso, é necessário respirar, manter o foco e, se precisar, mudar de direção.
Bellinzona – Foto: Pexels

Olhando para trás agora, percebo claramente a falta de comunicação com minha amiga. Talvez por estar na Suíça, eu esperava que as coisas fossem diferentes, sei lá.

Mas o ponto principal que quero compartilhar hoje é a importância de resolver. Você precisa buscar em seu repertório de conhecimento, mas para isso, é necessário respirar, manter o foco, ter comprometimento, confiança e, se necessário, mudar de direção. É como quando um ator dá um branco em cena: em vez de entrar em pânico, é preciso respirar, se acalmar, voltar ao eixo e, se for o caso, até sair de cena. Na vida, é a mesma coisa. Às vezes, perdemos o jogo por falta de confiança, medo, insegurança, falta de escuta e informação e também por não pedir ajuda, como aqui agora, levantando as mãos para me contar.

Nós, da comunicação e da expressão, eu especificamente que vim das artes cênicas, estamos sempre comprometidos em aprender, abrindo portas para várias possibilidades e conexões. Vamos trocando conhecimento com as diversas formas de comunicação pelo mundo, cada um à sua maneira, com seu talento, espalhando nossa forma de se comunicar e expressar pelo mundo.

Por isso também decidi escrever essa coluna dividindo momentos que, à primeira vista, podem até causar frio na barriga, mas que nos dão pistas sobre o próximo passo e onde estamos no processo. Se estivermos atentos, encontraremos uma saída, utilizando a palavra “Resolve”. Viva a arte dos encontros.

André Luiz Lima

Londrinense, ator, diretor, professor, palestrante e produtor cultural. Siga os Instagrans de André@allconnecting @aondevaiandre

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(*) O conteúdo das colunas não reflete, necessariamente, a opinião do O LONDRINENSE.

Fotos principal: site Bellinzona e Valli

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